Nos últimos anos, o termo “conta bolsão” ganhou destaque no mercado financeiro, principalmente com o crescimento das fintechs. Apesar de não aparecer literalmente nas normas do Banco Central, o conceito é amplamente utilizado e regulado de forma indireta. Neste artigo, vamos explicar de forma simples o que é, como funciona e quais os cuidados envolvidos.
O que é uma Conta Bolsão?
A conta bolsão é uma conta bancária única, aberta em nome de uma instituição (geralmente uma fintech ou instituição de pagamento), que concentra os recursos financeiros de diversos clientes.
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Na prática, todos os depósitos feitos pelos usuários vão para essa conta “mãe”.
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A fintech controla internamente, por meio de um sistema, o saldo individual de cada cliente em subcontas gráficas.
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Para o banco que mantém a conta bolsão, o titular é apenas a fintech, e não cada usuário final.
Como ela funciona no dia a dia?
Imagine uma fintech que oferece contas digitais sem ser um banco. Ela pode:
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Abrir uma conta bolsão em um banco parceiro.
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Receber os depósitos de todos os clientes nessa conta única.
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Gerenciar, em seu sistema, os saldos de cada cliente como se fossem “carteiras individuais”.
Exemplo:
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João deposita R$ 500.
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Maria deposita R$ 200.
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Ambos os valores entram no mesmo bolsão, mas o sistema da fintech registra: João tem R$ 500, Maria tem R$ 200.
Qual a base legal e regulatória?
Embora o termo “conta bolsão” não esteja escrito nas normas, a Lei nº 12.865/2013 já determinava que os recursos dos clientes em contas de pagamento pertencem aos usuários, não à instituição.
Além disso, regras posteriores do Banco Central (como a Circular 3.680/2013) exigem que cada usuário final seja identificado e tenha seu saldo registrado individualmente.
👉 Ou seja: o uso de conta bolsão é permitido, desde que a fintech mantenha:
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segregação patrimonial (os recursos dos clientes não podem se misturar ao caixa da empresa),
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controles internos robustos,
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e transparência para atender autoridades, como o Banco Central e o COAF.
Limitações e riscos
Apesar de prático, o modelo tem riscos que chamaram atenção do regulador:
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Falta de rastreabilidade: o banco enxerga apenas a fintech como titular da conta, dificultando a identificação direta do cliente final.
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Lavagem de dinheiro: se os controles internos forem falhos, pode haver uso indevido para movimentar valores ilícitos.
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Restrições recentes: normas como a Resolução BCB 269/2022 proibiram o uso de contas bolsão no Pix, exigindo que cada usuário esteja devidamente identificado como titular de uma conta transacional.
O futuro da Conta Bolsão
Com as novas regras do Banco Central (incluindo as Resoluções publicadas em 2025), o modelo de bolsão tende a perder espaço. As fintechs estão sendo pressionadas a obter autorização formal do BACEN e a oferecer contas individualizadas ou parcerias em modelo de Banking as a Service (BaaS).
Ainda assim, a conta bolsão foi um motor de inovação que permitiu o surgimento de dezenas de fintechs no Brasil. Seu legado é claro: mostrou que era possível democratizar o acesso a serviços financeiros de forma rápida e acessível.
Em resumo: a conta bolsão é uma solução legítima, mas hoje cercada de regras cada vez mais rígidas. Para fintechs, representa tanto um aprendizado histórico quanto um alerta para o futuro: transparência, compliance e governança não são opcionais.